Conhecido por seus desenhos e histórias de terror, ilustrador que é referência para Tim Burton e Neil Gaiman tem seu primeiro livro lançado no Brasil Publicado no site Saraiva Conteúdo em 24. 06. 2013 Por Carolina Cunha Ele nunca quis ser um autor de livros infantis, pois os achava “tediosos”. Mas não teve jeito. Edward Gorey não só conquistou a simpatia das crianças como também caiu na graça de muitos adultos. Suas criações influenciaram artistas como o cineasta Tim Burton, o escritor Neil Gaiman (Coraline) e o ilustrador Shaun Tan. Edward Gorey (1925-2000) começou a trabalhar na década de 50 em Nova York, ilustrando capas de livros. Em sua carreira, escreveu e ilustrou mais de 100 obras. Os traços são finos e góticos, com um estilo literário que pode ser enquadrado entre o nonsense e o surrealismo. Agora a editora Cosac Naify traz A Bicicleta Epiplética, com ilustrações cuidadosas e fontes que reproduzem a própria letra de Gorey. Escrito em 1969, o livro é o primeiro trabalho do autor publicado no Brasil. A história começa com os irmãos Embley e Yewbert, duas crianças que encontram uma bicicleta epiplética e caminham com ela por campos de rabanete. Tudo se passa num tempo em que “não era mais terça-feira, mas ainda não era quarta”. Entre as aventuras, a dupla precisa driblar um jacaré, passar por um desabamento de celeiro, evitar tempestades e lidar com a perda de 14 sapatos amarelos. “Esse é um livro dele que usa muito o nonsense, é uma boa oportunidade para o leitor tomar um primeiro contato com a obra. Mas ele tem coisas que assustam mais (risos). Você acha que o personagem vai se salvar e o carro vem e passa por cima dele. O leitor leva um susto. Para ele, a morte era um evento natural. Ele tem um tipo de humor, de relação com a vida, que pra algumas pessoas ou assusta ou é sem propósito”, diz o ilustrador Odilon Moraes, que ilustrou mais de 80 livros, entre eles os premiados A Princesinha Medrosa e Pedro e a Lua, e apresentou a obra de Gorey à Cosac Naify. Gorey declarou que na sua infância poderia muito bem ter sido uma criança que achava divertido simular um ataque epilético dentro de um ônibus. E assim como os pequenos, adorava animais, tendo criado personagens como coelhos e gatos estranhamente fofinhos. Mas o ilustrador tem seu lado macabro. Não eram incomuns cenas com crianças morrendo em seus livros. Um bom exemplo é o livro The Gashlycrumb Tinies (1981), onde 26 crianças morrem em ordem alfabética. “Nesse livro, ele escreve coisas como: ‘B de Benedito, que foi picado por um mosquito’. Se você entra na história, esse tom macabro é divertidíssimo. Se você não entra, é um livro horrível. Mas talvez seja a obra-prima dele”, diz Moraes. Por essas e outras, o problema era classificar uma obra que parecia inclassificável. Seria para adulto ou crianças? Ficção, terror? Para piorar, na Inglaterra, Moraes encontrou os livros do ilustrador na seção de humorísticos. “Tem gente que critica o Gorey, dizendo que ele não pode ser lido por crianças. O Gorey teve uma empatia direta com as crianças, mas não necessariamente com professores ou educadores”, brinca. Embora não fosse do século 19 e nem tivesse nascido na Inglaterra, Gorey já declarou que seu espírito pertencia à Era Vitoriana. Não por acaso, seu traço em preto e branco e o uso de texturas lembram gravuras antigas. Seus personagens, homens com bigodes e fraques e mulheres melindrosas, revelavam o gosto pelo retrô. “A obra dele tem um quê de século 19 e também da [Era] Eduardiana, até no humor macabro. Aquela coisa Oscar Wilde, romântica, mais dura, ou o desenho de Alice no País das Maravilhas. Acho o traço dele inseparável desse tipo de atmosfera nonsense que ele cria no texto. Muita gente, ao olhar o desenho dele, vai achar que é uma obra antiga”, comenta Moraes. Essa mistura de estilos e referências é proposital. Na verdade, Gorey não queria que ninguém entendesse tudo o que ele desenhava – não almejava o começo, meio e fim das histórias tradicionais. Ele mesmo dizia: “Quando as pessoas começam a encontrar sentido nas coisas, fique atento”. Bu! |